19 de jun. de 2010

Soraya

A noite era fria, e em um bar pequeno, com um violão ao fundo, vozes, pessoas, uma vodka, e aquele olhar. Juro que um milhão de volts percorream meu cérebro em um segundo, e logo perguntei seu nome; Soraya. Ela tinha que sair cedo, e eu tratei de levar; estava de moto, e chuviscava.
Chegamos logo, e depois de um beijo descompromissado ela ficou na porta do alto sobrado ao pé de uma enorme escadaria, a mesma que eu subiria no outro dia logo cedo quando liguei e ela pediu que a visitasse.
Ao subir a escadaria, a vi segurando um pincel; estava pintando. Ao circular pelo corredor deparo com uma velha senhora que vai logo pegando minha mão, e numa rápida consulta, dá dois tapinhas no meu braço e diz, "Ah, é você". Era a Dona Ruth velha vizinha bruxa que nos serviu muitos bolos em seu sofá; meu destino parecia estar traçado ali.
Anos depois naquela mesma escada, depois de ter seguido por quinze anos um caminho de pureza total, Soraya me contou que após minha decisão ou fato de eu ter me tornado um yogue, demorou três anos para realmente aceitar minha partida. Tenho a esperança de um dia reler as cartas que escrevi naquela época.
Vejo hoje que as histórias de amor se entrelaçam em nossa vida. como uma seiva que se mistura nas gerações, lembro-me do seu pai um Maçom, e seu avo um comunista, de sua mãe Carmem, com quem conversaria por mil e duas noites. 



Pela fresta desta janela
Ouvi o vento
E te rouba do meu leito
Sem ao menos me dizer
Para onde vai te levar

Quem se apossa assim tão fácil
É, não vai muito além
Pois na força da manhã
Posso ser muito valente
Prá vencer o espaço e te achar

Adormece o tempo
Que a fada te jurou
Fere o dedo no teu sonho
Se assusta com o meu beijo
E acorda a tempo
De saber que ainda eu sou teu rei
Vale mais a força do pensamento
Quem se apossa assim tão fácil...

Lô Borges

.

Nenhum comentário:

Postar um comentário