12 de jun. de 2010

Beijei a lona


Tinha acabado de retornar de uma semana de férias com familiares em praias Catarinenses. Estava solteiro e decidido, o trabalho, o comércio, bagaço de uma cana que já foi doce e agora estava ceco e difícil, Piracicaba sempre linda e quente, acabo de conhecer Beth Coração, e estranhei o fato de me apresentar a ela como compositor. Iria dedicar a minha vida a fazer músicas, e meu coração definitivamente apontava, minha inspiração seria uma negra.  Retornando de um samba, sozinho (não pensem que é fácil sair acompanhado de um Samba), aquela casa enorme e eu sozinho, tantas mulatas, negras, e eu sozinho. E eu que nunca tinha pedido nada a Deus, nada mesmo, do coração, nada. No meio do quarto, em pranto, sozinho, ergui as mãos e pedi. " no meio de tantas, porque Você não consegue uma para mim", e imaginei a forma, ela estava no meu coração, desejo, vontade, força de vontade. Me recompus e segui, alguns dias depois, recebo um telefonem, a de uma moça querendo me conhecer, era Cinthia, Tínhamos uma amiga em comum, e ela procurava emprego, não tardou para ficarmos amigos.
No primeiro dia de trabalho, ela que acabara de chegar, desmarcou uma viagem que faria com um engenheiro a São Pedro. Ele me disse: Ela desmarcou. E quando perguntei a ela porque tinha feito aquilo sem me consultar, ela respondeu, "Você não tem condições", realmente já fazia alguns dias que meu peito ardia, e uma queimação percorria o braço esquerdo, sintomas perfeitos para um enfarte. Não dava nem para se irritar, tamanho o despropósito, mas realmente era muito trabalho para um só. Lembro-me de ter dado umas pancadas na mesa e ter dito "Ok, você trabalha aqui, mas não vem com esta de casar, não sirvo para isto (já havia esquecido o pedido). Então entre uma fala e outra ouço ela dizer "Só quero sua sabedoria". Parecia que uma escora tivesse sido removida de meu coração.

Seguimos assim, cada um na sua, até que alguns meses depois:

Amigos, amigos, Quinta feira,  madrugada, e o Bar do Pintinho seguia normal, os músicos chegando de suas apresentações passavam por lá para saber das últimas, e tal. Numa mesa Sandra Rodrigues, acompanhada do Wagner Batera que não saia do balcão, Cinthia, eu, e toda sorte de pessoas que a noite permitir. Derrepente hora de ir, e cadê a Cinthia, Tinha se rendido ao convite de xxxx, só ficaram as sandalhas que tratei de carregar, Sandra me chamou de lado e disse, "Você não vai aguentar isto". Segui cambaleando, e lá pelas seis da manhã acordei e vi as sandalhas. Liguei para ela, "Estou na casa de fulano, " e como diz Chico Buarque, "Atrás de um homem, triste, há sempre uma mulher feliz, e atrás desta mulher mil homens sempre tão gentis", tratei de me "casar" com ela, ali mesmo no telefone. Alexandre estava comigo na ocasião, pois morávamos no casarão da Rua do Porto. Após desligar o telefone, chorei em pranto por bons minutos, ele só me acalmava, "Todo mundo beija a lona um dia", alusão ao lutador que cai de cara na lona do ringue. Hoje vejo, como é duro aceitar um presente.

Agora veja o momento que nos separamos, e curiosamente estavamos assistindo o mesmo amigo Alexandre, tocar em um bar.

http://compreensaosuficiente.blogspot.com/2010/06/dividida-ali-ale.html
  
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Um comentário:

  1. Esta música foi escrita pelo compositor irlandês Patrick Cassidy em parceria com Hans Zimmer para o filme Hannibal (continuação de O Silêncio dos Inocentes, conta a história do genial e sinistro Dr. Hannibal Lecter. Vai dizer que não assistiu?).
    A letra foi extraída do livro "La Vita Nuova" de Dante Alighieri, onde Dante descreve seu ingresso no mundo da poesia. Vide Cor Meum trata do primeiro soneto de Dante, onde descreve uma visão que teve e clama por auxílio para interpretá-la.

    Quando Dante tinha nove anos, conheceu uma menina encantadora chamada Beatrice. Só a viu de passagem, mas logo ficou obcecado por ela. Nove anos depois, a vê novamente, e desta vez ela cumprimenta Dante - foi o suficiente para que o Amor o dominasse totalmente. Ao voltar a seu quarto, "E pensando di lei Mi sopragiunse uno soave sonno" (e pensando nela, sou tomado por um suave sono).

    Então, ele tem a visão do Amor segurando uma mulher (Beatrice) enrolada em um véu. O Amor diz "Eu sou seu mestre". Em uma das mãos do Amor há um coração em chamas, e diz a Dante "Vide cor tuum" (veja seu coração).
    Então, o Amor acorda Beatrice e a alimenta com o coração flamejante de Dante, que ela aceita relutantemente. O Amor, então, torna-se muito triste e leva Beatrice com ele para o paraíso.

    Dante nunca explicou o que isso significava. De fato, o soneto pode ter várias interpretações: uma delas, segundo seu amigo Cavalcanti, sugeria que apaixonar-se era, do lado feminino, um evento triste para Beatrice, talvez um prenúncio de sua morte.
    Dante e Beatrice se casaram com outras pessoas, e Beatrice faleceu aos 24 anos. Dante escreveu La Vita Nuova 2 anos depois - época em que começou a se interessar por política e filosofia. Uma teoria diz que Beatrice foi o símbolo de alguma sociedade secreta política de Florença; outra, que Beatrice foi a eterna musa de Dante.

    Veja aqui a letra de Vide Cor Meum e sua tradução:

    Vide Cor Meum
    E pensando di lei
    Mi sopragiunse uno soave sonno

    Ego dominus tuus
    Vide cor tuum
    E d'esto core ardendo
    Cor tuum
    (Chorus: Lei paventosa)
    Umilmente pascea.
    Appreso gir lo ne vedea piangendo.

    La letizia si convertia
    In amarissimo pianto

    Io sono in pace
    Cor meum
    Io sono in pace
    Vide cor meum


    Veja seu coração

    E pensando nela
    Um doce sono me domina

    Eu sou seu Mestre
    Veja seu coração
    E este coração flamejante
    É o seu coração
    (Chorus: ela treme)
    Obedientemente come.
    Em prantos, vejo-o e renuncio a ele.

    A alegria é convertida
    Nas mais dolorosas lágrimas

    Eu estou em paz
    Meu coração
    Eu estou em paz
    Veja meu coração.

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