16 de abr. de 2013

Bairro Baeta Neves



Até meados do século XIX, nas proximidades do local denominado São Bernardo Velho, situado aproximadamente a três léguas do pátio do Colégio São Paulo e a menos de meia légua do Centro de São Bernardo do Campo atual, existiam, ao lado das propriedades do Mosteiro de São Bento, terras emancipadas de propriedades particulares, enquanto que as terras da igreja, através das providências do governo Imperial, foram desapropriadas para constituírem o Núcleo Colonial de São Bernardo.
Essas terras emancipadas continuaram a ser objeto da exploração agrícola ou extrativa por parte de seus proprietários que residem na Vila de São Bernardo e através da sucessão aberta inventariadas e partidos, transferindo-se os direitos a terceiros.
À margem da estrada de São Bernardo a Mogi das Cruzes, diversas dessas propriedades eram exploradas, sendo que, nessa estrada, não haviam propriedades da igreja.
Com a construção da estrada de ferro Santos-Jundiaí, construída pelo futuro Barão de Mauá, nasceu a localidade denominada Pilar, onde esse engenheiro fazia sua sede (hoje Mauá), o que acarretou a mudança do nome da estrada Caminho do Pilar, que posteriormente à inauguração da estação de São Bernardo e o conseqüente nascimento da Vila de Santo André (sempre sob a forma de dar a denominação do lugar mais próximo).
Uma dessas propriedades, hoje denominada Bairro Baeta Neves, foi adquirida pelo Dr. Luiz Felipe Baeta Neves (fazendeiro em Limeira), daí a origem do nome. Abrangia uma área bem superior a atual, que se estendia desde a divisa com Santo André, até onde hoje se localiza o Jardim do Mar (Cia. Cinematográfica Vera Cruz, Cidade da Criança, etc.), km 18 da Via Anchieta.
A atividade desenvolvida na região era a agricultura e, além disso, o próprio Dr. Luiz Felipe Baeta Neves instalou, nas proximidades do cruzamento do córrego Taioca com a estrada de Santo André (Av. Pereira Barreto), uma cerâmica, e ainda adquiriu direitos para extração de pedras para construção em uma área do Sítio dos Vianas.
Para administrar sua propriedade, trouxe de Limeira o Sr. João Versolato (pessoa de sua confiança) que passou a residir na localidade e implantando uma criação de porcos no “chiqueirão” (hoje novo centro comercial).
Com a instalação da linha do “Bondinho” pela Cia. Melhoramentos de São Bernardo, de propriedade do Sr. Alfredo Pujol, que ligava São Bernardo a Estação, foi incentivada a especulação imobiliária, face a industrialização que se processava no Bairro da Estação (hoje Santo André), originando o loteamento Vila Baeta Neves, por volta de 1925.
Dificuldades financeiras fizeram que o Dr. Luiz Felipe Baeta Neves hipotecasse parte de sua propriedade, inclusive a cerâmica, fato ocorrido devido à crise de 1929.
Tendo em vista solucionar parte dos problemas financeiros, um amigo do Dr. Luiz Felipe Baeta Neves, o Dr. Edmundo de Carvalho (filho do Dr. Amâncio de Carvalho - professor na Faculdade de Direito de São Paulo) constitui a Cia. Construtora Paulista, com sede em São Paulo, que assumiu as responsabilidades do loteamento.
A cerâmica não foi incluída na transação e mais tarde foi adquirida pela Cia. Melhoramentos de São Bernardo, cujo controle havia passado ao Grupo Simonsen.
A área compreendida entre o km 18 (Jardim do Mar) e o Rio dos Meninos, foi vendida ao Sr. Francisco Matarazzo Sobrinho, e a área intermediária vendida ao Grupo Tognato.
Durante o recesso financeiro, na década de 30, a Vila Baeta Neves estagnou seu progresso.
Por volta de 1929 foi efetuado o primeiro projeto de loteamento executado pelo engenheiro Dr. A. de Souza Barros, e nesse mesmo ano, houve o remanejamento dos traçados de suas ruas pelo Sr. Diogo Oetting, através da Cia. Construtora Paulista, a qual cuidava dos aspectos técnicos da Vila, inclusive providenciando a inscrição da mesma forma estipulada pelo Decreto Lei Federal nº 58, que havia sido promulgado, ao mesmo tempo que a Cia. dava concessão de vendas ao Sr. Arthur Petroni.
Com a retirada do “Bondinho”, o leito de sua estrada de ferro veio se constituir na nova estrada para Santo André por onde passaram a circular “Jardineiras”(veículos abertos nas laterais, parecidos com bondes), sendo que a primeira a circular era de propriedade de Carlos Maranesi. Essa estrada recebeu o nome de Av. Pereira Barreto.
O movimento da estrada e o desenvolvimento nacional da década de 40 trouxeram novo progresso à Vila, fazendo com que a Cia. Construtora Paulista reiniciasse seus trabalhos técnicos, através de contrato com o Escritório Técnico de Agrimensura sediado em São Paulo (propriedade do Major Otto Pereira de Carvalho, Emilio de Paula Souza e Newton Ataliba Madsen Barbosa), renascendo então o desenvolvimento da Vila.
Em 1948 esses técnicos providenciaram a doação pela Cia. Construtora Paulista sob a presidência do Dr. Edmundo de Carvalho, de um terreno onde se instalaria, em caráter permanente, uma unidade escolar (na administração do Dr. José Fornari), dando origem a Escola Estadual Dr. Baeta Neves.
Por volta de 1950, conforme entendimentos entre a Prefeitura e o Sr. João Setti, circulava o primeiro ônibus pela antiga Av. Hum, hoje Getúlio Vargas, tendo como passageiros Newton Ataliba Madsen Barbosa, Antonio Versolato (Tonico), João Setti e Sr. João Setti Filho, como motorista.
O primeiro prédio (sobrado) foi construído no início do loteamento onde funcionavam o escritório da Cia., o primeiro bar e a residência do Sr. João Versolato (esse prédio já foi demolido), e situava-se na esquina da Av. Pereira Barreto com a Av. Getúlio Vargas. Na esquina oposta instalou-se a primeira padaria, de propriedade do Sr. Giordano Martin Bianco, em 1947.
O primeiro padre, Reverendo Lázaro Equini.
A primeira serraria e carpintaria, do Sr. Willy Stucker; e seu irmão Bernardo Stucker instalou um armazém.
O primeiro Vila Baeta Neves Futebol Clube, instalado no prédio do Sr. João Carreiro à antiga Rua 7.
O primeiro morador da parte alta foi o célebre sargento Fragoso, que lá foi residir, depois de reformado da polícia em São Bernardo.
Durante uma das fases de desenvolvimento, a Vila Baeta Neves constituiu-se do que se pode classificar como “falsa favela”, porque os compradores de lotes na época eram pessoas de poucos recursos e que construíram suas casas clandestinamente com madeira, grande parte delas com tábuas de caixões de importação de automóveis das antigas indústrias: Brasmotor (hoje Brastemp) e Varam Motores (hoje ocupada pela Chrysler); alguns deles aproveitando o próprio caixão (inteiro), fazendo neles portas e janelas, ocupando principalmente os lotes mais escondidos da vista da Av. Pereira Barreto.


A característica da favela incentivou, na época, a chegada de pessoas de baixo nível sócio-êconômico fazendo com que a parte alta do Bairro fosse chamada de “Risca Faca”, em função das inúmeras ocorrências policiais que lá constantemente se verificavam, chegando ao furto dos assentos do carro de presos.

Entretanto, com a evolução natural, o progresso (melhores empregos, melhores salários, etc.), as famílias foram trocando as casas de madeira pelas de alvenaria, que passaram a construir em seus terrenos e, mais tarde, com a chegada dos melhoramentos públicos, e consequentemente valorização dos terrenos, as taxas supervenientes, selecionaram os proprietários e aqueles que não conseguiram se adaptar às novas exigências e nível do local, tiveram que vender suas propriedades ou simplesmente abandonar a região, resultando hoje em um Bairro de classe média com boas condições de habitabilidade e vizinhança.
Foi o primeiro bairro a ter iluminação pública a vapor de mercúrio (Praça São José e Rua Giacinto Tognato).
A propriedade do Dr. Baeta Neves abrangia desde o atual km 18 da Via Anchieta (compreendendo parte do Jardim do Mar, Chácara Inglesa, Vila São João, antiga Cia. Cinematográfica Vera Cruz, Cidade da Criança), ultrapassando a Av. Senador Vergueiro, o Rio dos Meninos, a Indústria de Fiação e Tecelagem Tognato, a atual Av. Pereira Barreto, toda a faixa compreendida entre o córrego Taioca e o Sítio dos Vianas, até atingir a estrada que liga os Vianas à Vila Luzita (Santo André), inclusive o atual Jardim Petroni.
As ruas da Vila Baeta Neves tem suas denominações de cidades de São Paulo (Ex.: Rua Jundiaí, Baurú, Catanduva, Caçapava, Batatais, Limeira, etc.), personalidades regionais (Rua Dr. Baeta Neves, Dr. Amâncio de Carvalho, João Versolato, Giacinto Tognato, Giacomo Marchioni, Domingos Boin, etc.) e ainda em homenagem ao ex-presidente, Av. Getúlio Vargas (principal via de acesso).
Em 1957, Baeta Neves já tinha sua atual igreja quase que completa. A construção tinha sido iniciada em 1953 e fora construída em junho de 1957. Só faltava fazer a cúpula. As paredes da nova igreja, lembrando bastante a Catedral de São Pedro, em Roma, começaram a ser erguidas em torno da antiga capelinha, que de tão pequena nem precisou ser imediatamente demolida.


JARDIM PETRONI
Até ser loteado, o Jardim Petroni era uma extensa área desabitada da Vila Baeta Neves. No local, por volta de 1948, existia apenas uma olaria, chamada Bom Jesus, que fornecia tijolos de graça para os compradores de lotes do Baeta.

Aliás, a área hoje denominada Jardim Petroni pertencia a região de Vila Baeta, tendo sido comprada por um ex-gerente da Companhia Construtora Paulista, empresa responsável pelo loteamento do Baeta. O remanescente da área foi cedido a Irineu Ladeira de Souza Lima, corretor de imóveis e procurador de Arthur Petroni (daí originando o nome), que incorporou novas áreas do Sítio dos Vianas.
O Jardim Petroni conta com rede de Energia Elétrica executada em 1964 (Rua Ituá) e Iluminação Pública à vapor de mercúrio em 21 de agosto de 1974.
A região serve-se da linha de ônibus Via Jardim Farina-Jardim da Represa (Rua dos Vianas) através da Empresa Viação Cacique Ltda.
A solicitação para o loteamento do Jardim Petroni foi efetuada a 1/10/1956, com a abertura do processo nº 4179.
Ao longo da Rua dos Vianas, que começa perto do Paço Municipal e termina no Jardim Petroni, foram criados vários loteamentos nas duas últimas décadas. São loteamentos populares, pequenos, semelhantes, nem todos aprovados pela Prefeitura:


VILA VIANA: é um dos loteamentos mais antigos da região. Foi loteado pela Empresa Edificadora Brasil Ltda., através do processo de loteamento nº 1753/74.



JARDIM FARINA: foi loteado por Mário Farina, através do processo de loteamento nº 1149, de 10/03/1954. Embora inscrito, este loteamento não foi regularmente aprovado. Falta recebimento em doação de ruas.



JARDIM NASCIMENTO: foi loteado por Renato Gomes Caetano e outros, através do processo de loteamento nº 2841/55. Foi aprovado em 17/11/1955. Origem do nome: Isabel do Nascimento Lopes da Silva era a proprietária da área.



VILA PRIMAVERA: foi loteada por Angelo Scopel e sua mulher, através do processo de loteamento nº 1543/56. Foi aprovada em 10/06/1958. Origem do nome: o plano de loteamento foi elaborado no início da primavera (estação).



JARDIM TRIESTE: Foi loteado em 1960 e aprovado em 28/05/1968. Também ocupa o antigo Sítio dos Vianas. Possui uma área de 25,9 m2. Um ponto de referência é o Cemitério da Colina, localizado na divisa do Baeta Neves com o município de Santo André.


Lei nº 1026 de 19/03/1962 - denomina Bairro Baeta Neves

Fonte: Jornal Diário do Grande ABC - 30/05/76
Colaboração: Sr. Leonardo Fernandes Filho - SO.3 (27/07/1975)
Execução: Seção de Pesquisa e Banco de Dados - SA.212 - PMSBC