4 de jun. de 2010

Bilhete do Chandão



Para entender o que aconteceu naquela noite, temos que começar na noite anterior. Na época estava morando no velho casarão do Pierre na Rua do Porto e Alexandre era meu hóspede.
A Segunda feira  era plena e a tarde encontrei Alexandre todo feliz: "Serjola, Serjola, descolei uma apresentação hoje a noite em um jantar de amigos; poucas pessoas, vão preparar um filé ao molho de pimenta e tal... Como o jantar ainda estava para ser pensado, lá fui eu de percursionista. Tudo pronto, jantamos, cantamos, Alexandre recebeu seu cachê e ainda tomamos uma gelada antes de dormir.

Logo cedo fui a cidade e retornando deparo-me com Alexandre as 9:00 da manhã próximo a praça. Estava sério. Serjola, vou tratar uns assuntos mais tarde nos vemos. Estava ele indo depositar a pensão ganha na noite anterior. Quando retornou ele foi tomar uma gelada no bar do finado Carlão, onde se deu a história da música. Indignado com os fatos ele me escreveu os fatos em um bilhete e saiu novamente.

Só sei que a tarde retornando ao casarão, encontrei um bilhete em cima da mesa, que logo mais de madrugada, durante um campeonato de futebol de botão, seria o motivo do Samba "Bilhete do Chandão".

O Campeonato estava animado, a água cortada, a luz elétrica vindo por um fio diretamente da iluminação da rua pela ponta de um fio em uma vara de pescar. O casarão tremia, e ao tropeçar no fio o Campeonato era interrompido, então ouvi Ricardo comentar: Pô, sofro com este gato no chão...

Ali estava nascendo o Samba Bilhete do Chandão, na presença, dos mais ilustres desocupados e apaixonados da noite.


Bilhete do Chandão

Aqui sem água sem luz
Olha meu irmão
Sofro com o gato no chão

Sai pra tomar uma birra
Topei que gelada não tinha
Pedi uma soda então
E o Carlão com a cara feia
Disse "Gelo, não boto não"
Como se não bastasse
Numa atitude impessoal
Perguntou, Se eu tinha acordado agora
Respondi, Já paguei até pensão
Acordei cedo, comprei jogo de botão

Aqui sem água nem luz
Olha meu irmão
Sofro com o gato no chão

Sacando o veneno do velho
Cuidando da vida alheia
Vagabundo não sou não
Se minha cara te incomoda
Não vou perder minha razão
E como se não bastasse
Numa atitude pessoal
Me sentei, e bebi soda quente
E pensei, não quero confusão
Já vou me embora
Pra não dar-lhe um safanão

Aqui sem água nem luz

Olha meu irmão
Sofro com o gato no chão



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